Gisele Santos

“Flocos de neve no ar

Canções em todos os lugares

Tempos e rimas antigas

De amor e sonhos para compartilhar”


Sarada Uchiha, treze anos, parecia estar com o tamanho um pouco abaixo do de sua idade, mas ela não ligava pra isso, se tivesse algo de errado com seu corpo, sua mãe que é médica, já teria lhe levado a um hospital.

Ela tinha acabado de terminar o nono ano da escola regular, e havia passado em uma seleção de escola técnica.

Todos da família ficaram orgulhosos dela, seus pais ficaram radiantes ao receber o resultado e prometeram uma comemoração em grande estilo.

Mas ela não ligava muito pra isso, no momento, só queria saber que hora seu pai iria aparecer para a viagem. As malas dos três – dela, seu irmão, Sakura e Sasuke – já estavam prontas.

Era fim de ano e ele havia prometido que estaria com elas no Natal, mas parecia que não iria rolar, como nos três anos anteriores.

Depois de três anos passando o Natal londe de seu pai, havia perdido totalmente o espírito natalino.

E então, ao se lembrar dos presentes que ele mandava, ela logo relaciona com o fato de como as pessoas superlotam shoppings e lojas em geral para comprar presentes.


“Natal é época de dar presentes.”


Nunca, nenhum e qualquer presente substituiria seu pai.

Ela odiava essa frase, isso fazia com que as pessoas passarem horas em shoppings comprando presentes, enfrentando filas, se cansando...

Tudo para entregar um bem material, quando ela poderia apenas passar uma noite de Natal fazendo companhia a alguém que passaria sozinho.

Todo aquele amor que diziam envolver as pessoas naquela época, parecia simplesmente nem encostar em seu pai.

Não que ela pensasse que ele não a amava, afinal, ele passa o ano inteiro com ela, mas três anos passando o Natal longe a deixou com dúvidas sobre qual o verdadeiro sentido do Natal.

Ela não entendia o que tinha acontecido. Antigamente, quando ela tinha por volta dos 8/9 anos, ela se lembrava de como os Natais eram felizes, como toda família se reunia ao redor da mesa para ceiar e depois iam para a lareira conversar enquanto as crianças brincavam na neve em frente a casa de seus avós.

Tudo parecia tão distante agora.

Sua mãe disfarçava, mas ficava triste também por seu marido não estar com ela.


...


Sakura ficava triste com o fato de Sasuke não poder passar o Natal com eles, desde que os pais dele deixaram ele e Itachi cuidando da empresa eles não tiveram descanso.

Nesses últimos três anos nem Sasuke, nem Itachi apareceram na festa de Natal que tinha na casa dos Uchiha todos os anos.

E quem diria que logo ela, Sakura Haruno, estaria ligando pra isso.

Sim, ela nunca deixaria de ser uma Haruno.

Ela se lembrou de como conheceu Sasuke, era um Natal como esse...



Sakura estava andando pelo shopping, mais uma entre tantas outras pessoas que deixam pra fazer suas compras de “última hora”, ainda faltava pouco mais de uma semana para o Natal, mas as lojas estavam todas lotadas. Estava cheia de sacolas e tinha certa dificuldade em andar por entre tantas outras pessoas com tantas outras sacolas.

Infelizmente, ela teria que ir em casa antes de comprar o resto dos presentes, o pior de tudo isso, é que não participaria da metade das festas para quais estava comprando os presentes, apenas os levaria no local e iria embora.

Esse seria o primeiro Natal que passava sozinha, seus pais e seus irmãos tinham viajado e ela teve que ficar por causa de suas aulas na faculdade.

Com todo desgosto, teve que ficar em casa, e ainda mais tendo que comprar todos os presentes que seus pais deveriam comprar se estivessem em casa.

Ao voltar pro shopping e encher mais sacolas, dessa vez o suficiente para todos, ela pode ir pra casa tranquilamente.

Ela pensava que seu dia já tinha sido cheio o suficiente.

Estava totalmente enganada!

Ao subir para seu apartamento no último andar, em um pequeno prédio de cinco andares e sem elevador. Ela não não soube como, mas em um instante, estava com a cara no chão do corredor do andar de seu apartamento.

Ela se levantou furiosa, o corredor estava cheio de caixas, pelo jeito, ela já tinha um novo vizinho.

Um novo vizinho desorganizado e que a fez cair estatelada num corredor cheia de sacolas.

De cara no chão!

Ele tinha mexido com a pessoa errada!

Assim que se levantou e encostou suas sacolas em um canto onde ninguém poderia tropeçar e cair, foi até a porta do vizinho e bateu três vezes.

Ouviu um barulho e percebeu que era ele indo até a porta, quando ele escancarou a porta de uma vez pode ver o quanto ele era desastrado.

– Pois não? – ele lhe perguntou, mas logo reparou em algo no rosto dela. – Meu Deus, o que aconteceu com você? Entre, vou pegar uma bolsa térmica que tenho no congelador pra colocar aí.

Ela não entendeu o que estava acontecendo, quando percebeu, ela já estava sentada na única poltrona que tinha na sala bagunçada e com uma bolsa térmica gelada envolta por uma camisa sendo pressionada em sua testa.

Ela nem tinha percebido o galo que o tombo tinha criado. A raiva era maior.

– Como você conseguiu isso? E o que quer aqui?

– Pergunte para as caixas que estão no meio do corredor! Eu vim reclamar por causa delas!

Na hora a ficha caiu pra ele e ele começou a pedir repetidas desculpas a ela.

Ela tentou ser mais severa, mas como com aquele rosto lindo lhe pedindo desculpas?

– Tudo bem. Só tire aquilo do corredor, certo? Mais alguém pode se machucar.

– Me perdoe, mesmo... estou fazendo minha mudança sozinho e nunca fui bom em organizar as coisas.

– Percebi. Vou te ajudar a juntar as caixas e vou pra minha casa depois.

– Não precisa, vá descansar, parece ter tido um dia cheio.

– Certo, até mais...

– Sasuke, meu nome é Sasuke – ele falou estirando sua mão para que ela apertasse.

– O meu é Sakura.

Ele a ajudou levando os presentes para o apartamento dela.

E a partir daí foram muitos encontros desastrosos por parte dos dois, até a noite de Natal, em que ele ia até a porta do apartamento dela para lhe desejar um feliz Natal.

Ele tocou a campainha e a esperou ir atender. Não demorou muito para que ela abrisse a porta.

– Oi, Sasuke! O que foi? – ele percebeu que ela havia acabado de sair do banho e vestia uma roupa simples, parecia que ela não iria sair pra comemorar o Natal.

– Vim te desejar um feliz Natal – ao contrário dela, Sasuke estava arrumado e perfumado, pronto para ir comemorar com sua família.

– Feliz Natal pra você também – ela respondeu o abraçando.

– Não vai sair? – ele perguntou quando se separaram.

– Não, minha família viajou e eu fiquei por causa das aulas.

– Que ruim... – ele não sabia o que fazer, nem o que dizer – Vou nessa, se cuide!

– Você também!

Sakura entrou em seu apartamento meio desanimada e se sentou em frente ao sofá para assistir os especiais de Natal, como fazia quando era criança. Deixou na mesa de centro algumas coisas que ela tinha preparado para comer e um bom vinho, se enrolou em um grosso edredom e voltou a assistir.


Ela não passou dez minutos assim até que ouviu sua campainha tocar novamente. Se levantou irritada sem saber quem mais a visitaraia a essa hora além de Sasuke que já tinha ido embora.

– Oi, voltei. – Era Sasuke.

– O que foi? Aconteceu algo?- ela tentou não criar expectativas, mas foi inevitável.

– A neve fechou as ruas. Meus pais moram longe demais para eu ir a pé, então voltei. Quer companhia?

– Pode ser... entre! – ela até se animou.

Sasuke entrou e reparou como ela era organizada, diferente dele.

– O que estava fazendo?

– Estava me organizando pra assistir a programação de Natal. Sente-se, quer comer? Beber algo?

– Tem vinho? – ele nã havia reparado na mesa.

– Sim – ela pegou e o serviu – você jantou?

– Não. Ia jantar com meus pais.

– Você ligou pra eles avisando? – ela perguntou enquanto colocava o jantar dele num prato.

– Sim. Minha mãe ficou furiosa por eu não ter saído mais cedo.

– É uma pena você não estar com eles...

– Sakura, - ela o olhou – estou onde devo estar.

Sakura percebeu naquele dia o quanto era agradável a companhia de Sasuke.

Também passaram o ano novo juntos, mas dessa vez na casa dele.



E a partir daí, ela nunca mais passou sozinha.


...


Dessa vez ele não podia falhar. Estava falhando como pai e marido.

Ele se programou por meses, correu contra o tempo na empresa de sua família para resolver tudo antes de viajar com sua família.

Ele não os decepcionaria novamente, isso estava fora de cogitação.


...


– Mamãe, ele prometeu vir!

– Eu sei, querida, mas tenha paciência. Ainda temos alguns minutos.

Embora tentasse se enganar mais uma vez, Sakura sabia que ele não conseguiria chegar.


E foi o que aconteceu.

Quando o táxi chegou apenas Sakura, Sarada e Hiro entraram nele. Entristecidos mais uma vez.

O Natal era no dia seguinte, mas eles já sabiam o que aconteceria.

Sakura já sabia o que era quando seu celular tocou.


– Oi, querido.

– Sah, me desculpe, eu...

– Não se preocupe, nós sabemos, já estamos a caminho do aeroporto. – Ela dá um suspiro – Nos ligue amanhã, como sempre.

– Claro... amo vocês.


Sakura sufocou o choro.


– Também te amamos.


Era 24 de dezembro, todos os Uchihas estavam na mansão, a família era relativamente grande, mas ainda não estava completa.

Sasuke e Itachi não estavam lá, mais uma vez.

Isso gerou uma briga entre Mikoto e Fugaku nesta manhã, pois segundo ela, ele não deveria ter jogado a toda responsabilidade da empresa nos ombros de seus filhos que nem na área trabalharam.

Ele resolveu se aposentar repentinamente, assim como seu irmão Madara.

Sasuke era arquiteto e Itachi engenheiro civil, eles sempre trabalharam juntos, o trabalho de um completava o do outro.

Mas mesmo juntos, nenhum tinha experiência com empresas como a da família.

Assumir a empresa foi um dos maiores desafios da vida deles, mas eles fariam isso como sempre fizeram, juntos.

E como verdadeiros Uchihas, eles tem levado a empresa como ninguém.

Mas Mikoto os queria com ela no Natal. Seus filhos estavam deixando suas famílias de lado por causa de bens materiais. Não foi isso que ela os ensinou e não queria que seus netos fossem criados assim.

Esse definitivamente, seria o último Natal que ela passaria sem eles!

Já era noite e todos ceiavam animadamente. Os Uchihas, embora reservados, conversavam muito entre si e faziam muitas brincadeiras.


Já era quase uma hora da manhã.


Todos olharam pra porta quando ouviram vozes vindo de lá e logo depois, barulho de pessoas entrando.


Sarada olhou alerta e correu até a porta. Abriu seu melhor sorriso ao ver quem era e correu para seus braços.


Sasuke a recebeu com um abraço apertado e lhe deu um beijo na bochecha ao se separarem para que ela se agarrasse com Itachi também.


– Vocês vieram! – ela disse animada.

– Eu prometi, não foi?


Eles cumprimentaram a todos e foram comer também.

...


Todos já dormiam em seus quartos. Ela tinha acabado de deixar Hiro no quarto junto com as outras crianças.

Quando entrou no quarto que dormia com Sasuke, o encontrou olhando algo pela janela e com uma taça de vinho em mãos.

Ela não tinha tido a chance ainda de abraça-lo, foi a primeira coisa que fez chegando por trás dele.


– Pensei que não viria de novo... – ela comentou encostando a cabeça no ombro dele e lhe beijando ali.

– Não podia deixar vocês de novo... Itachi também não queria isso.

– Fico feliz que tenham conseguido chegar.

– Agradeça ao papai. Ele conseguiu um jatinho pra nós. Não tinha mais vaga em voos pra cá.

– Ele e sua mãe tiveram uma briga feia por causa disso, não foi legal.

– Foi um dos motivos dele ter conseguido um tão rápido pra nós, quando fomos ao aeroporto, não conseguimos pegar mais nenhum avião. – Ele suspirou cansado e se deitou.


Pouco tempo depois a porta do quarto se abriu e uma garota entrou no quarto sem bater segurando a mão de seu irmão enquanto coçava os olhos com a outra.


– Mãe, pai, Hiro acordou chorando.

– Venham pra cá – Sasuke os chamou. – Me prometem uma coisa?

– O quê? – As duas crianças perguntaram ao mesmo tempo fazendo Sakura rir.

– Nunca mais me deixem passar o Natal longe de vocês.

– Claro que não deixarei! – Sarada respondeu esticando um dos braços em sinal de determinação.

– Nem eu! – Respondeu Hiro sonolento se enroscando nos braços de sua mãe para dormir.

– Ótimo! Amo vocês.

– Também te amamos, papai. – Apenas Sarada respondeu. Hiro já dormia nos braços de sua mãe. – Podemos dormir aqui?

– Claro, querida... – Sakura respondeu – Sempre que quiserem.



Finalmente poderia dormir tranquila.

Sarada sabia que quando ele prometia, cumpria.
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